Em Dublin tudo começou devagar, devagarinho. Como quem chega a casa tarde, a tactear o escuro, com medo de acordar quem não pode. O Porto sentiu o espartilho apertado do Braga, foi incapaz de se soltar e submeteu-se a uma vigília dolorosa. Dolorosa e dormente. Só em cima do intervalo, através do 17º voo triunfal de Radamel Falcao na prova, a história mudou de rumo e a letra passou a ser azul.
O cruzamento de Freddy Guarín é perfeito, a movimentação do compatriota colombiano ainda melhor e o cabeceamento absolutamente mortal. A Rep. Irlanda foi a Colômbia europeia naqueles três segundos de magia. Artur Moraes nada podia fazer, Alberto Rodríguez e Paulão sim. Podiam e deviam. Rodríguez perdeu a bola, Paulão perdeu a noção de tempo e espaço, olhou para trás e Falcao já lá não estava.
Liberto do medo de errar, pois o mal estava feito, o Sp. Braga desapertou a alma e lançou-se na discussão. O jogo ficou a ganhar, as bancadas aplaudiram e Fernando tremeu como nunca antes tremera. Esse pode muito bem ter sido o momento do jogo. Perda de bola irreparável do médio do F.C. Porto, Mossoró (lançado ao intervalo por Domingos) completamente isolado perante Helton e o lance a morrer esmagado pela bota direita do guarda-redes.
Sem complexos, os minhotos alcançaram o patamar exibicional do F.C. Porto. A segunda parte foi toda passada olhos nos olhos. Sem presa, nem caçador, apenas duas equipas plenas de desejo. O bom futebol é, sempre será, o primeiro atalho, o primeiro caminho. É certo que os bons propósitos não eliminam totalmente a possibilidade de fracasso, mas asseguram a felicidade do viajante.
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